ÁLVARO PAIS - Rico Burguês de Lisboa (homem honrado de boa fazenda), no dizer de Fernão Lopes, que desempenhou o cargo de chanceler do rei D. Pedro e do rei D. Fernando. Gozava de grande prestígio económico e político. Na sua casa, onde se reuniam os dirigentes eleitos da burguesia lisboeta, se arquitectou o plano para matar o Conde Andeiro, o homem forte da grande nobreza senhorial e do regime, apontado como o principal responsável pela política da rainha D. Leonor.
Álvaro Pais foi o chefe da conspiração que levou à Revolução de 1383-1385. Era pai adoptivo do Doutor João das Regras.
ANTÃO VASQUES - Juíz de crime que apregoou da parte do Mestre para que ninguém fosse tão ousado que assaltasse a judiaria. É que no entusiasmo da vingança revolucionária, o povo preparava-se para assaltar a judiaria, porque alguns judeus eram ricos e traidores, no dizer de Fernão Lopes. Os maiores ódios iam para D. David Negro, judeu com uma considerável fortuna, valido e conselheiro de D. Fernando.
CONDE JOÃO FERNANDES ANDEIRO - Fidalgo de origem galega, valido do rei D. Fernando e amante da Rainha D. Leonor. Foi nomeado Conde de Ourém como recompensa pelos serviços diplomáticos prestados na preparação dos tratados de paz com Castela e do casamento de D. Beatriz, única filha de D. Fernando e de D. Leonor, com o rei D. João de Castela. Foi assassinado pelo Mestre de Avis, no Paço dos Infantes, no dia 6 de Dezembro de 1383.
D. FERNANDO I (1345-1383) - REI - Filho de D. Pedro I e de D. Constança Manuel. Subiu ao trono com vinte e dois anos, numa época em que a Europa vivia graves conflitos político-militares (Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra e guerra civil em Castela). Esta guerras foram a consequência da grande instabilidade político-social, decorrente da grave crise económica da primeira metade do século XIV.
D. Fernando acaba por se envolver na guerra civil de Castela com alguns apoios locais, alegando o seu direito ao trono castelhano, na qualidade de bisneto de D. Sancho IV.
O seu casamento com D. Leonor Teles reforçou o poder e preponderância da nobreza na condução do governo, o que não agradou aos grupos sociais mais desfavorecidos.
O governo de D. Fernando foi assim palco de grandes dificuldades económicas, causadas pela crise e pelas guerras (destruição de bens e culturas, quebras de moeda, alta de preços e baixa de salários). As fomes eram frequentes, principalmente nos meios urbanos, o que causava descontentamente e até manifestações violentas.
Neste contexto, D. Fernando tenta resolver a situação de crise com uma série de medidas, das quais se destacam a "almotaçaria de 1372" que respeitava às leis do trabalho, a Lei das Sesmarias de 1375, que regularizava a produção a grícola e a criação da Companhia das Naus que regulava o comércio e os seguros marítimos.
Em Abril de 1383, face à doença do rei D. Fernando, a rainha D. Leonor, por intermédio do Conde galego João Fernandes Andeiro, negoceia o casamento da filha D. Beatriz, única herdeira do trono, com o rei de Castela.
D. Fernando morre em Outubro de 1383, abrindo caminho para a regência de D. Leonor, uma das épocas mais conturbadas da História portuguesa, visto que as lutas pelo poder e pela sucessão ao trono se traduziram numa autêntica revolução: a Revolução de 1383-1385.
JOÃO DAS REGRAS (DOUTOR) - Filho adoptivo de Álvaro Pais, viveu portanto no século XIV. Teve um papel importante na defesa dos direitos do Mestre de Avis ao trono de Portugal, nas Cortes de Coimbra em 1385. Segundo Fernão Lopes, este homem de leis exaltou de tal modo as qualidades e o valor do Mestre de Avis como Regedor e Defensor do Reino durante a crise da sucessão e a revolução que se lhe seguiu, denegrindo igualmente as acções dos outros candidatos ao trono, que a escolha daquele para rei de Portugal foi aplaudida por todos os presentes.
Depois desta prestação política, pediu ao rei D. João I os terrenos de uma quinta em S. Domingos de Benfica para a construção de um convento dominicano, ao que o rei acedeu de bom grado. Depois de construído o convento, o Doutor João das Regras ingressa nele como frade e aí se mantém até à sua morte. O seu túmulo com a sua estátua jacente encontra-se na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, integrada no dito convento, hoje pertença do Instituto Militar dos Pupilos do Exército.
D. LEONOR TELES (RAINHA) - Nasceu em meados do século XIV e morreu em 1386. De origem fidalga, casou em primeiras núpcias com D. João Lourenço da Cunha, senhor de Pombeiro, de quem viria a separar-se "por licença canónica" para casar com o rei D. Fernando, em Maio de 1372.
Contra este casamento houve manifestações de descontentamento em Lisboa, Abrantes, Alenquer, Tomar, Santarém e outras vilas, das quais resultaram algumas mortes, por vingança de D. Leonor.
Em 1373 teve uma filha, D. Beatriz, que viria a ser a única herdeira do trono, após a morte de D. Fernando.
Fernão Lopes apresenta D. Leonor Teles como uma mulher de rara beleza e inteligência mas também de espírito maquiavélico, tecendo intrigas constantemente. Prometeu a filha em casamento ao Infante D. João, filho de D. Pedro e D. Inês de Castro, sendo portanto meio irmão do rei D. Fernando, mas com o compromisso de se desembaraçar da sua actual mulher, D. Maria Teles, por sinal sua irmã. Após o assassínio, cujos motivos são engendrados pela própria D. Leonor, o Infante D. João não teve a mão da princesa e teve que fugir para Castela. O objectivo de D. Leonor era realmente afastar este pretenso candidato ao trono, já que com a morte de D. Fernando em 1383 se abriu uma crise dinástica da qual resultou a Revolução de 1383-1385, devido ao casamento de D. Beatriz com o rei de Castela.
Toma as rédeas do poder após a morte de D. Fernando, fazendo uma política favorável aos interesses de Castela, por influência do Conde Andeiro, seu amante e conselheiro.
Os homens bons de Lisboa, chefiados por Álvaro Pais, conspiram para matar o Conde Andeiro e aclamar Regedor e Defensor do Reino, o Mestre de Avis, filho de D. Pedro e também meio irmão de D. Fernando.
Perante estes acontecimentos, D. Leonor foge para Santarém e escreve ao rei de Castela, seu genro, para invadir Portugal, garantindo assim o direito de D. Beatriz ao trono. Mas o genro prende-a em 1384 quando invade Portugal e ela mais uma vez conspira. Escreve aos alcaides para que não apoiem o rei castelhano e conjura a sua morte, o que lhe vale o exílio para Tordesilhas, onde vem a falecer.
MESTRE DE AVIS - REI D. JOÃO I - (11.4.1357-14.8.1433) - Era filho bastardo de D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço, natural da Galiza.
Tinha apenas seis anos quando o rei D. Pedro o armou cavaleiro e o investiu nas funções de Mestre da Ordem Militar de Avis.
Durante a sua juventude e apesar dos votos próprios da situação de Mestre de uma Ordem tem dois filhos ilegítimos, fruto da sua ligação amorosa com D. Inês Peres, filha de um judeu importante da cidade da Guarda: D. Afonso, mais tarde, Conde de Barcelos e D. Brites que virá a ser Condessa de Arundel.
No reinado de D. Fernando tornou-se um homem de grande prestígio, o que não agradava a D. Leonor Teles, levando-a a conspirar contra ele e até a ordenar a sua prisão no Castelo de Évora. Com a morte do rei em 1383, D. Leonor afasta-o da Corte, nomeando-o fronteiro do Alentejo. O Mestre finge obedecer mas, como já se encontra no centro da conspiração para matar o Conde Andeiro, regressa, entra no Paço e executa o plano urdido por Álvaro Pais. (6.12.1383)
Perante a notícia posta a correr nas ruas de Lisboa de que querem matar o Mestre no Paço, por traição da Rainha e do Conde Andeiro, o povo acorre para o apoiar e amaldiçoar os traidores. Rebenta a Revolução e D. João mostra-se receoso de não controlar os acontecimentos. Entretanto, os apoios à sua causa sucedem-se e ele é aclamado Regedor e Defensor do Reino.
Em Maio de 1384 o rei castelhano, casado com D. Beatriz, a herdeira do trono de Portugal, cerca Lisboa e o Mestre coordena a defesa da cidade. O cerco vai prolongar-se até Outubro e quando as tropas castelhanas se retiram são convocadas as Cortes de Coimbra para eleição do rei. Graças aos préstimos do Doutor João das Regras, o Mestre é eleito rei com o nome de D. João I. Entretanto viaja pelo país a fim de pacificar todas as cidades e vilas que tinham tomado voz por D. Beatriz, coordena com D. Nuno Álvares Pereira a batalha de Aljubarrota, cuja estrondosa vitória consolida a independência de Portugal e tenta por todos os meios conseguir uma paz duradoura com Castela.
Casa com D. Filipa de Lencastre, de quem virá a ter oito filhos, dos quais se destacam D. Duarte, rei; o Infante D. Pedro, homem muito culto e viajado que virá a ser Regente de D. Afonso V; o Infante D. Henrique, grande impulsionador dos Descobrimentos e D. Fernando, prisioneiro e mártir em terras do Norte de África.
Ainda no seu reinado, em 1415, faz-se a expedição ao Norte de África para conquistar Ceuta, início da expansão portuguesa, período áureo da nossa História.

NUNO ÁLVARES PEREIRA - (1360 - 1.4.1431) - Filho de Álvaro Gonçalves Pereira, prior da Ordem do Hospital, que, além dele, segundo a Crónica do Condestabre, teria tido mais trinta e um filhos de várias mulheres.
Foi educado pelo pai até aos treze anos e instruído nas armas pelo tio materno, passando depois para a Corte como escudeiro de D. Leonor.
Casou com D. Leonor de Alvim e passou a viver na Quinta da Pedraça em Cabeceiras de Basto. Mas em 1381, colaborou com seu irmão Pedro na defesa do Alentejo e após a morte de D. Fernando aderiu à causa do Mestre de Avis, destacando-se logo a seguir em missões de relevo, nomeadamente na vitória militar na Batalha dos Atoleiros em Abril de 1384.
Tomou parte nas Cortes de Coimbra, onde foi nomeado condestável e mordo-mor, e recebeu importantes doações.
Batalha de AljubarrotaDestacou-se na batalha de Aljubarrota, sendo recompensado com a doação de muitos bens. Continuou a sua vida militar sempre ao serviço de D. João I e em 1401 casou a sua filha D. Beatriz com D. Afonso, filho bastardo do rei.
Desde 1403 que se dedicou mais de perto à construção do Convento do Carmo e de numerosas igrejas no Alentejo, assim como a capela de S. Jorge em Aljubarrota.
Participou também na expedição a Ceuta e em 1422 passou a viver no Convento do Carmo, entrando para o Ordem como leigo, em 15 de Agosto de 1423.
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BREVE APONTAMENTO SOBRE O CRONISTA DA REVOLUÇÃO DE 1383-1385
FERNÃO LOPES - Considerado o nosso maior cronista ou mesmo o nosso primeiro historiador, pois demonstra não só a preocupação pela busca da verdade dos acontecimentos que narra mas também revela uma atitude crítica na utilização e selecção dos documentos utilizados, confrontando muitas vezes as várias versões. Nota-se também nas suas obras a preocupação pela explicação dos factos, sejam eles de carácter económico, político ou social. Fernão Lopes revela também grande poder de comunicação, de modo a envolver emocionalmente o leitor nos acontecimentos como se estivesse presente. As suas narrativas são autênticas obras de criação artística e literária.
Notário de profissão, foi nomeado em 1418 "guardador das escrituras do Tombo", isto é, chefe do arquivo público do reino, cargo que acumulava com o de "escrivão dos livros de D. João I".
Pensa-se que são da sua autoria as seguintes obras: "Crónica dos Sete Primeiros Reis de Portugal", "Crónica de D. Pedro", "Crónica de D. Fernando" e "Crónica de D. João I".
O relato dos acontecimentos ocorridos entre 1383 e 1385 é da autoria de Fernão Lopes. Foi ele que lhe conferiu o carácter "revolucionário" , identificando a imposição do Mestre de Avis no trono com as esperanças nacionalistas dos "povos miúdos" contra os direitos da nobreza senhorial que apoiava D. Beatriz, casada com o rei de Castela.
Texto da ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DE HISTÓRIA